Genética de Valor: Avaliação Financeira da Comercialização de Reprodutores Melhoradores
Docente da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (FAMEZ / UFMS)
Em parceria com a ABCZ, realizou-se um estudo para analisar as estratégias de comercialização para reprodutores zebuínos no Brasil, focando nos impactos financeiros do parcelamento nas vendas.
O objetivo foi compreender como as práticas de pagamentos, especialmente a diluição dos valores em longo prazo, afetam a lucratividade e competitividade do setor.
O estudo analisou o padrão das vendas de reprodutores junto a 20 criadores vinculados a ABCZ de forma anônima. Este estudo preliminar trouxe como resultados mais relevantes a maior proporção das vendas por leilões virtuais, com uma média de 30 parcelas, sendo destas 5 parcelas duplas, o que leva a um prazo total de 25 meses, com aplicação de frete grátis limitado ao Estado em que a propriedade se localiza, sem nenhuma ferramenta financeira aplicada, como antecipações ou correções, e com um gasto total envolvendo os valores de produção dos animais, gastos com frete, gastos com promoção e realização dos leilões.
Para avaliar os impactos financeiros do parcelamento, foram desenvolvidas duas ferramentas de análise financeira, e simulado o cenário padrão composto por: uma Receita Média por reprodutor no valor de R$ 17.500,0, com seus Custos Totais no valor de R$ 9.100,0, considerando R$ 6.000,0 de Custos Produtivos, R$ 900,0 para Frete, R$ 500,0 para Promoção e R$ 1.700,0 para o Leilão, com 30 parcelas no total, sendo 5 parcelas duplas. Esse cenário gera um Lucro Bruto de R$ 8.400,0 e uma Margem Bruta de 48,0%. Contudo, não leva em consideração a comparação dos resultados futuros a uma alternativa financeira, e para isso foi empregado o valor do Custo de Oportunidade de 10,75%aa, equivalente a Taxa Selic brasileira. Os indicadores analisados incluíram a Desvalorização das Receitas, o acúmulo de Perdas no período, a TIR (Taxa Interna de Retorno) e o Payback do fluxo de caixa simulado.
Os Gráficos 1 e 2 a seguir trazem os resultados acumulados da aplicação do custo de oportunidade sobre o parcelamento da receita. Foi observado uma Desvalorização Total de -R$ 1.439,70 no poder aquisitivo da receita acumulada, equivalente a uma perda de 8,96% sobre a Receita Corrigida. Quanto ao Gráfico 2, este mostra o fluxo de caixa, a partir da venda do reprodutor, com um período de pagamento para saldos positivos em 11 meses, ou seja, praticamente um ano inteiro para se obter o primeiro valor positivo.
Por fim, esse modelo simulado, obtêm uma TIR igual a 8,26%, sendo necessário à sua comparação ao custo de oportunidade do período, considerando 25 meses, o equivalente a 23,56%, ou seja, uma TIR muito abaixo do necessário para se considerar viável financeiramente esta simulação.
Um detalhe importante deve ser observado na possibilidade de descontos para pagamentos à vista, uma vez que um desconto de 10% sobre a receita, quando comparado com a receita corrigida pelo custo de oportunidade, representa um valor real de apenas 1,93%, devido a perda de poder da receita parcelada.
Com este cenário posto, foram realizadas análises de sensibilidade testando outros valores médios para Receita, e seus resultados são apresentados no Gráfico 3 abaixo.
Este teste mostra que para valores médios mais baixos, os prazos totais devem ser reduzidos, no intuito de minimizar os impactos negativos de um padrão de parcelamento futuro não corrigido e nem antecipável. Com isso, para um padrão de venda, em tempos de crises, igual a R$ 15.000,0 / cab., o prazo total deve cair para 14 meses para se atingir um Payback de 6 meses, uma TIR de 13,65%, superior ao custo de oportunidade do período, e uma perda mínima possível no patamar de 4,16%. Os demais resultados seguem a mesma linha, sendo possível maiores parcelamentos, desde que se obtenham prazos totais inferiores aos atualmente praticados pelo mercado.
Cabe uma ressalva importante, esses são dados simulados, e não levam em consideração questões comerciais, mercadológicas e de valor agregado por genética superior. Porém, servem, principalmente, para serem aplicados sobre o mercado de Touros Melhoradores para clientes de reprodutores para monta a campo. Tendo menor impacto para animais considerados supervalorizados, ou aqueles genearcas e matrizes doadoras de centrais.
Historicamente, até final dos anos 90, ainda era possível encontrar criadores que comercializavam seus animais com um nível de parcelamento pequeno, no máximo 3 parcelas, porém com o passar das últimas duas décadas, se viu uma evolução deste quesito, e a termo de comparação, o Gráfico 4 mostra uma última análise, comparando os modelos de comercializações desde os anos 90, onde se evidencia a perda de eficiência financeira do modelo de venda, com as ressalvas comerciais já abordadas neste artigo.
Em conclusão, o estudo sugere que, adequar o prazo de parcelamento pode mitigar o impacto negativo nas margens financeiras, mantendo a TIR acima do custo de oportunidade. Negociações focadas na redução de despesas, ajuste do prazo e melhora nos indicadores financeiros devem ser priorizadas. Reduzir o tempo de Payback é fundamental para tornar a venda de reprodutores zebuínos mais competitiva no longo prazo.
Nota:
*Os simuladores, desenvolvidos neste estudo, que oferecem análises econômicas com base nos dados informados pelo usuário, são apenas uma referência, sendo o uso das informações de inteira responsabilidade do usuário, e podem ser acessados em:
**Planilha eletrônica – visualização em computador
https://docs.google.com/spreadsheets/d/1lIf_l50vu4khnBny91ML5-uuQK2rNnpeFYAdhxsh9cY/edit?usp=sharing
***Aplicativo para visualização em aparelhos celulares e tablets:
https://simulaleilao-aexw4u.flutterflow.app
Este artigo está disponível na edição nº 125 da Revista ABCZ. Para conferir este e diversos outros materiais exclusivos, acesse o link: https://issuu.com/abcz.pmgz/docs/revista_125_1_