Joãozito Andrade eternizado nos eventos da Bahia
O presidente Arnaldo Manuel de Souza Machado Borges da ABCZ também acompanhou a homenagem da ABCN (Associação Baiana dos Criadores de Nelore), através de seu presidente Paulo Sérgio Wilberg Lisbôa, dedicada ao criador Joãozito Andrade. A placa de reconhecimento pelo trabalho do selecionador foi recebida pelos atuais administradores do plantel, os criadores Otacílio José da Conceição Junior e José Luiz Pereira.
O Nelore Baiano da Fazenda Trindade, lapidado pelo saudoso Joãozito Andrade por mais de 70 anos, também foi protagonista de um grande evento da programação da Feira Internacional da Agropecuária da Bahia 2016 (Fenagro). O governador do Estado, Rui Costa, e o secretario de Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura Vitor Bonfim, inauguraram um novo tatersal que leva o nome do selecionador.
O rebanho do Nelore Trindade é conduzido nas terras da Fazenda Várzea dos Gatos, em Geremoabo/BA, e no Rancho Trindade, em Feira de Santana.
Conheça a história do fundador do Nelore Trindade:
Ele levava uma vida simples e espartana em Jeremoabo, entre negócios internacionais e administração dos seus bens, na Fazenda Várzea dos Gatos, onde mora há quase 40 anos, distante 32 quilômetros da sede do município.
Costumava levantar, seguir até a varanda do enorme casarão em estilo colonial em que vivia e girava lentamente a cabeça, num movimento de 360 graus, para apreciar a bela paisagem da Fazenda Várzea dos Gatos, onde morou mais de 40 anos, distante 32 quilômetros do município de Jeremoabo. De lá ele, administrava duas outras propriedades. O Rancho Trindade, no município de Feira de Santana, e a Fazenda Trindade, em Cícero Dantas, onde começou a selecionar seu plantel de gado nelore, hoje considerado um dos de maior pureza genética do mundo.
A primeira, próxima à capital baiana, serve de vitrine para expor os animais aos compradores que chegam das mais diversas partes do planeta. A segunda foi onde cresceu ao lado dos três irmãos, hoje falecidos, e começou a ganhar fama como criador da raça bovina, iniciada há mais de 70 anos, com apenas seis matrizes.
Ele já havia sofrido dois infartos que lhe renderam algumas pontes de safena. O Sr. Joãozito chegou a planejar o destino do seu patrimônio. "Gostaria que se tornasse patrimônio da humanidade". Sem dúvida, ganharíamos muito. "Eu nunca achei que era o dono de nada aqui, sempre soube que tudo pertence a todos, que sou apenas um administrador".
Embora venha de uma família de posses, que o enviou ainda criança à capital para estudar, a paixão pela vida simples do campo o levou de volta à roça antes de completar 14 anos. O pouco que estudou, porém, foi bem aprendido.
A experiência do trabalho solitário rendeu-lhe prestígio mundial. Em 1982, a Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ) registrou seu rebanho com o selo Puro de Origem Importado (POI Joãozito). Na Bahia, segundo a Associação Brasileira de Criadores de Nelore (ABCN-BA), o rebanho de gado gira em torno de 11 milhões de cabeças. Destes, 70% são nelore.
Embora pareça pequeno, em relação ao total do Estado, o plantel de Joãozito, segundo o diretor financeiro da entidade, Adalberto Bezerra, não pode ser comparado quantitativamente. "Eu trocaria alguns destes milhões de animais por 100 cabeças do plantel dele" , diz o pecuarista.
De acordo com estimativas do mercado de pecuária, Joãozito deixou no seu seleto plantel animais que, em leilões, podem chegar a valer até R$ 500 mil. Ele não confirmava, nem falava em valores. Bezerra afirma que o rebanho do sertanejo está entre os melhores do mundo pelo rigor da seleção. "A qualificação obtida por Joãozito Andrade é grande porque são animais selecionados para ter um alto rendimento, tanto em carne quanto na reprodução", explica.
A paciência e a persistência também ajudaram seu Joãozito a resgatar e preservar a raça de caprinos canindé. O primeiro exemplar foi recolhido por ele na porta de um matadouro da região. De posse da cabra, foi pesquisar sua origem. Primeiro na região, depois na Europa, sem êxito. Um amigo garantiu ter visto um animal com características parecidas com as de Boa Sorte – nome dado à cabra por ter se livrado da morte. Foi atrás, trouxe o macho com a esperança de que os genes combinariam.
Combinaram. O primeiro fruto do cruzamento foi um cabritinho idêntico aos pais. Foi este, batizado de Chefão, que deu origem ao rebanho que povoou o Brasil e outros países do mundo, como a Malásia e Angola. O de seu Joãozito, com três mil exemplares, é o maior do mundo. A seleção feita por ele, a partir da consanguinidade, chamou a atenção de pesquisadores da Estação Experimental de Pendência, na Paraíba. Joãozito doou 500 cabras para o estudo. Recentemente, doou outras 900 para a criação de um núcleo leiteiro em Lajes, no Rio Grande do Norte. Atualmente o selecionador estava desenvolvendo uma nova raça de ovinos, livre de pelagem, o que a torna mais adaptável às altas temperaturas do semiárido.
Joãozito foi homem diferente. Apesar de circular pelo mundo dos negócios, em leilões e exposições, não acompanhava o noticiário. "É tudo igual, não muda nada", justificava. Política também foi um assunto que não lhe interessou. Políticos, menos ainda. "Eu gosto de coisa séria", dizia com sua sinceridade marcante.
Seu Joãozito tinha fama de generoso. Além das doações que fazia para alguns centros de pesquisas, costumava presentear os amigos. Com os empregados, também mantinha uma relação de respeito e estima e era querido por todos.
Nos últimos anos, fez o que chamava de uma pequena reforma agrária. Os funcionários mais velhos que já haviam deixado a labuta foram agraciados com terra e com um pequeno pé-de-meia pelos serviços prestados. Foi com a ajuda dele que o ex-vaqueiro Otacílio José da Conceição, 56, o Dodó, conseguiu formar seu patrimônio. Quando chegou à fazenda, em meados de 1976, trazia apenas dois bois de arado.
Do lado de lá, Dodó se mostra reconhecido pela ajuda que recebeu daquele que considerava um pai. "Aprendi tudo com seu Joãozito", conta. Além da amizade que um nutre pelo outro, têm ainda em comum o amor por Otacílio Júnior, o filho de Dodó que seu Joãozito zelou como a um neto.
Este é Joãozito Andrade, sertanejo, nascido aos 14 dias de junho de 1920, na histórica cidade de Geremoabo, localizada no semi-árido do nordeste baiano, às margens do lendário rio Vaza-Barris, selecionador e criador de Nelore, cabras Canindé, Britsh Alpine, Ovinos Trindade, e preservador do gado Kangayan, proprietário das Fazendas Trindade, em Cícero Dantas-BA e Várzea dos Gatos, em Jeremoabo-BA; a documentação original destas propriedades consta do Registro Eclesiástico de Terras Tombo da Casa da Torre, a primeira no livro 4636, de 1818 –1839, e a segunda no livro 4706, de 1854-1860.
Aos trinta dias de nascido, fora levado para uma fazenda de seu pai, Manoel Vieira de Andrade, onde viveu durante a infância, brincando e assistindo diariamente o manejo do gado nos currais e ouvindo as histórias que o pai contava sobre os negócios que fazia com os fazendeiros do Recôncavo, dos quais havia comprado aquele gado branco, conhecido como Nelore de Ongole, que tanto o impressionava pela beleza e vivacidade.
Ao completar a idade escolar, fora para Bom Conselho, atual Cícero Dantas, onde iniciou e concluiu o curso primário, seguindo depois para Salvador, levando consigo a imagem do gado branco; e lá, fora internado no seminário, em busca de vocação. Decorridos alguns anos, reconheceu que não possuía vocação para a carreira sacerdotal, como também para nenhuma outra formação acadêmica, fato que comunicou aos pais, no seu retorno, de férias, à fazenda, declarando seu interesse pela vida no campo.
E logo, propôs ao pai a permuta de um gado que já possuía, procedente de uma vaca que recebera de presente no seu primeiro aniversário, por seis vacas e um touro, descendentes do rebanho de seu pai, cuja origem era dos criadores baianos Dantas Bião e Octávio Ariani Machado.
Em 1942, procurou adquirir algumas áreas de terra, remanescentes da antiga Fazenda Trindade, da qual já haviam sido desmembradas; e ali, com o mesmo nome, implantou a nova fazenda, iniciando a criação e seleção de gado da raça Nelore.
Antes de morrer Joãozito Andrade escreveu A trajetória de vida e vocação de um sertanejo, título do livro deste que foi um dos pecuaristas mais importantes do país. A autobiografia conta em textos, imagens e documentos a história de 90 anos dedicados à pecuária brasileira desse fazendeiro natural da cidade de Jeremoabo, criador e selecionador de gados Nelore; cabras Canindé; Britsh Alpine; Ovinos Trindade e preservador do gado Kangayan. (texto histórico extraído do site do Jornal da Regional).