Estudo aponta caminhos para atividade pecuária em MG
A pecuária de corte é um dos segmentos do agronegócio brasileiro mais bem-sucedidos no mundo. O país passou de importador de carne, na década de 80 a um dos maiores produtores e exportadores do planeta. O Brasil possui o maior rebanho comercial bovino do mundo, com cerca de 214 milhões de cabeças – sendo que mais de 80% são representados por animais de raças zebuínas ou com sangue de zebuínos. Entre 2000 e 2015 a produção de carne brasileira cresceu 45%, enquanto o rebanho bovino de corte aumentou 25%. Só no ano passado produzimos 9,2 milhões de toneladas de carne e vendemos para outros países 20% desse total.
Em Minas Gerais, o número de cabeças de gado é o segundo maior do país, com 21,8 milhões de animais ou 11% do rebanho nacional. O segmento de corte é o terceiro do setor agropecuário em relevância econômica, tendo acumulado R$ 7,3 bilhões em valor bruto de produção em 2015.
É claro que a crise fez o consumo interno de carne de bovina cair, mas o mercado externo está em expansão.
Apenas entre janeiro e abril deste ano, Minas já exportou US$ 132 milhões de carne bovina, que foi o quinto produto mais vendido pelo estado.
Um estudo realizado pelo INAES mostra que o potencial de Minas para a produção de carne está longe de ser esgotado e pode crescer bastante, mas para tanto, os pecuaristas precisam dar mais atenção à gestão do negócio, ampliar o uso de assistência técnica e investir mais na recuperação de pastagens e no melhoramento genético do rebanho.
“Os resultados mostram que há um campo amplo de ações que podem ser desenvolvidas para fomentar o crescimento sustentável da pecuária de corte no estado. Mas a prioridade deve ser ampliar o acesso ao conhecimento e às tecnologias. A capacitação de produtores e trabalhadores deve ser incentivada. Os produtores podem investir preferencialmente em tecnologias como suplementação nutricional estratégica, melhoramento genético, manejo de pastagens e sistemas de integração. A aplicação de ferramentas gerenciais e de planejamento, bem como estratégias comerciais também deve estar em primeiro plano”, diz Pierre Vilela, superintendente do INAES.
Diagnóstico
Encomendado pela Comissão Técnica de Pecuária de Corte da FAEMG (Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais), o trabalho realizado pelo INAES (Instituto Antonio Ernesto de Salvo) é o primeiro a fornecer dados sobre a produção de bovinos de corte no estado ao investigar e tabular os aspectos econômicos, sociais e ambientais de diferentes sistemas de produção adotados em propriedades nas quatro principais regiões produtoras.
Veja alguns dos resultados encontrados:
Quem está na atividade
• 79,8% são casados
• 87,6% têm filhos
70% acreditam que seus filhos assumirão os negócios
Escolaridade
Os produtores
• 19,5% têm ensino fundamental completo
• 28,1% ensino médio
• 44,5% graduação
• 7,8% pós-graduação
Mais da metade têm curso superior
Os herdeiros
• 16,2% têm ensino fundamental
• 22,8% ensino médio
• 61% graduação
18,5% são formados em ciências agrárias
Tempo de atuação
• 25,2% há até 10 anos
• 31,5% entre 11 e 20 anos
• 18,9% de 21 a 30 anos
• 24,4% há mais de 31 anos
Apenas 1 em cada 4 pecuaristas de corte ingressou na atividade nos últimos 10 anos.
Principal dificuldade para se estabelecer na atividade
• 37,9% financeira
• 36,3% adequação técnica
• 15,3% mão de obra
• 10,5% inserção no mercado ou fazer adequação ambiental
Principal dificuldade atual da atividade
• 34,7% mão de obra
• 29,3% técnica
• 21,8% financeira
• 14,3% mercado
Apenas 21,5% usam algum tipo de financiamento do governo e só 22% conhecem linhas de crédito subsidiadas como o programa ABC.
93% dos pecuaristas apostam que a intensificação da atividade é uma tendência que se manterá ou aumentará. Mas apenas 33% dos pecuaristas entrevistados contratam assistência técnica.
67,7% estão otimistas quanto ao futuro da atividade; consideram a pecuária de corte como atividade ou mercado promissor, com perspectiva de crescimento de mercado, principalmente externo.
Pretensão de intensificação da atividade
88% pretendem manter ou aumentar
12% irão diminuir ou ainda não sabem
Acompanhamento da atividade
Faz planejamento
• 2,4% técnico
• 13,4% financeiro
• 12,6% técnico e financeiro
• 71,7% não faz
Faz controle
• 19,4% caderno
• 11,6% financeiro
• 7,8% software
• 61,2% não faz
A maioria dos pecuaristas não faz planejamento ou qualquer tipo de controle técnico e/ou financeiro da atividade
Sistemas mais utilizados
Central – recria e engorda (34,6%) e completo (42,3%)
Nordeste – recria e engorda (61,5%) e completo (23%)
Norte – cria (50%) e completo (20,45%)
Triângulo – recria e engorda (42,8%) e completo (28,5%)
38% também atuam na pecuária de leite; 20%, na agricultura; 14%, floresta; e 7%, em outras atividades
39,2% das propriedades não têm área para agricultura
Destino da produção
• 42% outras propriedades (sistemas de produção) em Minas Gerais
• 45,7% frigoríficos do estado
• 7,4% outras propriedades fora de Minas
• 4,9% frigoríficos fora de Minas
Práticas na propriedade
40,9% dos pecuaristas fazem manutenção das pastagens
• Apenas 10% adubam o pasto, isso demonstra ineficiência tecnológica das propriedades em relação às pastagens e se traduz na baixa lotação média detectada nas propriedades pesquisadas.
Práticas utilizadas nas pastagens
• 29,5% análise de solo
• 29,6% reforma e recuperação
• 40,9% manutenção
Manejo das pastagens
• 38,7% contínuo
• 34,7% diferido
• 25,3% rotacionado
• 1,3% não sabe
Estratégias nutricionais
• 28,4% usam proteinados
• 27,7% ração concentrada
• 40,8% suplemento mineral
• 3,1% suplemento com ureia
Reprodução
80,5% não fazem estação de monta. A não adoção dessa prática reduz as taxas de fertilidade do rebanho e a seleção para precocidade e fertilidade das fêmeas
Somente 27% das propriedades fazem inseminação artificial. O baixo percentual de inseminação artificial acarreta menor qualidade e progresso genético do rebanho no longo prazo
Legislação
80,6% informou conhecer plenamente ou grande parte da legislação trabalhista.
Meio ambiente
100% dos pecuaristas afirmaram ser possível conciliar a atividade de pecuária de corte com a preservação ambiental
Práticas de gestão ambiental
82,8% possui Reserva legal
91,4% APP
28,3% georreferenciamento
25,3% licença ambiental
14,8% outorga para uso de água.
Fonte: Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais