Português
05 DE DEZEMBRO DE 2014. POR MÁRCIA BENEVENUTO

Embrapa pesquisa genes para carne de qualidade

Embrapa pesquisa genes para carne de qualidade

Pesquisa seleciona genes relacionados à maciez, suculência e outras características de qualidades da carne.
Pesquisadores querem oferecer um conjunto de marcadores moleculares que permita ao pecuarista a seleção precoce de bovinos com as características desejadas pelo consumidor, tais como cor, suculência, valor nutricional, teor de gordura e, principalmente, maciez da carne.

Desde 2006, a Embrapa, universidades e instituições parceiras buscam estratégias para melhorar a qualidade da carne bovina no Brasil a partir do uso de genética.
Para conhecer o potencial de um animal, os pesquisadores fizeram o que se chama de análise de associação genômica ampla, na qual é possível identificar as posições do genoma que afetam a qualidade da carne para cada característica desejada. "Quanto à maciez, por exemplo, foram avaliados 29 pares de cromossomos do boi e identificadas regiões importantes para esse atributo. Avaliamos a maciez em três momentos: logo após o abate e depois de sete e 14 dias de maturação da carne", explica a pesquisadora Luciana Regitano, da Embrapa Pecuária Sudeste.
A ideia é que, com as informações coletadas e associadas a novos estudos, seja possível disponibilizar um conjunto de marcadores moleculares e, assim, selecionar animais que serão usados para reprodução de descendentes com as características de interesse do pecuarista.
Os marcadores são trechos do DNA responsáveis por determinados atributos herdáveis e que diferenciam os indivíduos. Conhecendo-se seus efeitos sobre as características de qualidade da carne, desenvolve-se um teste de DNA que permite prever se um touro jovem tem potencial para melhorar a qualidade da carne nos seus filhos, acelerando e aumentando a eficiência do processo de seleção.
Com o uso de marcadores reduz-se o tempo para se chegar a animais produtores de carne de qualidade e o custo de testar muitos touros. "No processo tradicional, por exemplo, o criador levaria tourinhos para reprodução e precisaria esperar a avaliação dos filhos para saber se eles teriam boa qualidade de carne, já que para a avaliação dessa característica é necessário abater o animal. Ou seja, a seleção do reprodutor é feita com base na avaliação dos descendentes. Com os marcadores, é possível saber de antemão se o touro tem potencial genético para maciez de carne, por exemplo. Dessa forma, ao invés de multiplicar uma grande variedade de touros de potencial desconhecido, intensifica-se o uso dos mais promissores", ressalta Luciana Regitano.
No Brasil, atualmente, o melhoramento é mais voltado para a eficiência produtiva e reprodutiva dos animais. De acordo com o superintendente técnico, Luiz Antonio Josahkian, da Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), até agora, os aspectos qualitativos não estiveram na linha de frente. Segundo ele, primeiro foi preciso produzir carne em quantidade. "A qualidade é a próxima fronteira do conhecimento que precisamos avançar. Mas o processo seguiu uma cronologia correta", conta Josahkian.
Para o superintendente da ABCZ, o Brasil produz carne de forma distinta do hemisfério Norte. São produtos diferentes para mercados diversos. "Temos que melhorar a qualidade, mas preservar as características tropicais da carne. Precisamos alcançar a mesma maciez e suculência do hemisfério Norte, mas manter as características saudáveis da carne tropical, com menos gordura. E acredito que a genômica pode ter a resposta para isso", destaca Josahkian.

O maior rebanho comercial do mundo

O Brasil é um dos principais produtores e exportadores de carne bovina. O plantel nacional está estimado em mais de 210 milhões de bovinos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior rebanho comercial do mundo. Cerca de 80% do plantel brasileiro é formado por animais zebuínos (Bos indicus).
Em 2013, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC), as exportações de carne bovina alcançaram US$ 6,6 bilhões. Parte desse sucesso deve-se a pesquisas para o aumento da produtividade pecuária, a diminuição do tempo de abate e o desenvolvimento de tecnologias que promoveram a sustentabilidade do setor produtivo.
O melhoramento genético, aliado à biologia molecular, pode contribuir para acelerar o processo de identificação de genética para qualidade da carne e atender expectativas de mercados consumidores específicos que dão preferência para carnes com as características citadas. Para atender as demandas de pesquisa sobre qualidade da carne bovina brasileira e torna-la competitiva, formou-se em 2007 a Rede Bifequali, um trabalho nacional de pesquisa no âmbito do Macroprograma 1 da Embrapa, o qual engloba projetos voltados a trabalhar grandes desafios nacionais. Essa rede avaliou 800 novilhos da raça Nelore desde o nascimento até o abate. Durante cinco anos, de acordo com a pesquisadora Luciana Regitano, foram analisadas 770 mil variações do genoma dos animais e investigados os genes relacionados à produção de carne de qualidade e de eficiência alimentar.

A complexidade para se obter maciez

Para cada característica, o número de marcadores moleculares é diferente. No caso da maciez, os pesquisadores foram surpreendidos. A variação genética para essa característica está distribuída em todo o genoma no Nelore. Com esse resultado, segundo ela, seria necessário colocar à disposição do produtor um kit de marcadores que contemplasse, praticamente, todo o genoma. "Cerca de 100 mil marcadores", acredita Luciana. Já para outras características, como eficiência alimentar, o estudo encontrou regiões importantes individualmente. Neste caso, um kit com cerca de 300 marcadores, que contemplasse 10 ou 15 regiões do genoma, seria suficiente.

Os próximos passos da pesquisa

Como resultado do projeto Bifequali, pesquisadores tem à disposição um banco de informações complexo e rico para projetos futuros que podem levar à mesa do consumidor uma carne macia e suculenta.
Estatisticamente, o número de animais avaliados na pesquisa ainda é insuficiente para uma estimativa realista do efeito de cada marcador molecular. Mas, segundo Luciana, as informações já obtidas, em conjunto com outras pesquisas em andamento na Embrapa, vão gerar dados para o desenvolvimento de um produto adequado para o melhoramento animal. Além disso, a equipe continua investigando, com recursos da Fapesp, os mecanismos biológicos e genes envolvidos na variação da maciez, composição da gordura e conteúdo de minerais da carne, buscando alternativas para aplicação desse conhecimento na produção de carne de melhor qualidade.
Também está sendo estudado o desenvolvimento de um chip, com custo viável, de marcadores importantes para cada característica de interesse para o melhoramento do Nelore. Conforme a pesquisadora, o chip pode envolver uma série de características. "Todas as características que são herdáveis podem ser inseridas nesse kit para ser usado em melhoramento", conta.
O primeiro passo para alcançar uma carne com mais qualidade já foi dado. As pesquisas com os marcadores são realidade e vão colaborar para potencializar ainda mais a produção de carne brasileira no mercado mundial.

Fonte: Texto adaptado AI Embrapa Pecuária Sudeste

A ABCZ utiliza somente os cookies necessários para garantir o funcionamento do nosso site e otimizar a sua experiência durante a navegação.

Para mais informações, acesse a nossa Politica de Cookies

Aceitar