Criadores, técnicos e estudantes de Ciências Agrárias prestigiaram nesta quarta-feira (08/05), a 2ª edição do Fórum Zebu de Ponta a Ponta, promovido pela ABCZ na 79ª ExpoZebu, com o apoio do Beefpoint e da Scot Consultoria.
O médico Dr. Wilson Rondó Jr. fez a palestra de abertura do evento com o tema ?Carne e leite de zebu na saúde humana?. O especialista em Nutrologia enfocou em sua apresentação a importância do consumo da carne bovina e de outras fontes de proteína animal na alimentação diária. ?Existe um mito de que a gordura oriunda da carne bovina é a responsável pelas doenças cardiovasculares, quando na verdade o grande vilão da alimentação humana moderna é o consumo de produtos refinados e que utilizam óleos vegetais parcialmente hidrogenados. Este tipo de alimentação causa um desequilíbrio na relação dos ácidos graxos (Ômega 3 e Ômega 6) o que desencadeia uma ação inflamatória responsável pelo aparecimento de outras doenças graves, como Alzheimer?, revela o autor do livro ?Sinal verde para a carne vermelha?.
Dr. Rondó afirmou ainda que a gordura saturada ?boa? é importante para o bom funcionamento de nosso organismo. ?Precisamos de gordura saturada para manter o funcionamento do nosso cérebro, musculatura cardíaca e para a arquitetura celular, uma vez que a falta de gordura impede a entrada de nutrientes em nossas células?, ressaltou. Outro ponto salientado pelo médico é a divulgação periódica de pesquisas estrangeiras sobre os malefícios da carne bovina. ?Estudos americanos, por exemplo, não podem ser transferidos para a nossa realidade, pois o tipo de criação de gado é diferente da brasileira e, por isso, os efeitos também geram resultados diferentes. Praticamente, toda a carne produzida no Brasil e oriunda de criação a pasto, com destaque para as raças zebuínas como o nelore, enquanto nos Estados Unidos quase que toda a carne é oriunda de animais confinados?, disse.
Na sequência, o criador Carlos Viacava, ex-presidente da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil, falou sobre o caso de sucesso da marca Nelore Natural, criada por volta do ano 2000. Viacava comentou os esforços realizados nos últimos anos para mostrar que o nelore é um animal produtivo, rústico e eficiente, ao contrário, das críticas que existiam no mercado pecuário, que privilegiavam as raças taurinas em detrimento deste zebuíno. O ex-presidente da ACNB falou sobre as estratégias para colocar o programa em prática com o apoio de pecuaristas, frigoríficos e supermercados, bem como a comunicação e marketing nacional, os obstáculos enfrentados e a atual fase do programa, cuja carne Seara Natura é comercializada com exclusividade pelo Marfrig. ?Precisamos combater a visão imediatista dos frigoríficos em relação ao cruzamento industrial. Quando perdemos raça, perdemos também uniformidade. O boi brasileiro é o nelore. Precisamos acelerar o processo de melhoramento genético do nelore?, ressaltou Viacava.
Já Leonel Almeida, gerente de Pecuária do Marfrig, falou sobre a visão da indústria frigorífica sobre o zebu. Ao comentar que as tendências mundiais apresentam expectativas interessantes em relação ao consumo mundial de carne bovina (com aumento do número de consumidores, aumento do poder aquisitivo e da qualidade da alimentação), Leonel ressaltou que no Brasil, as raças zebuínas são as únicas capazes de suprir com este crescimento de demanda. ?O zebu tem volume e regularidade. Agora, é preciso que os criadores aperfeiçoem a qualidade da carne produzida, pois existe muita diferença entre os animais que chegam à indústria. Sabemos de criadores que dispõem de um ótimo produto, mas por outro lado, há também animais de baixa qualidade, que consequentemente irão produzir uma carne pouco aceita pelo consumidor. Afinal, não existe o corte de carne melhor e, sim, boi bom e boi ruim?, concluiu.
O palestrante Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, falou na sequência sobre o mercado interno, que absorve grande parte da carne bovina produzida em nosso país. Entre os pontos enfocados na apresentação está o posicionamento de Alcides sobre a importância do planejamento da atividade pecuária, que deve auxiliar o pecuarista nas tomadas de decisões. ?Estamos em uma fase de baixa no ciclo. É uma fase para fazer investimentos. Os preços do boi gordo ficaram sustentáveis nos primeiros quatro meses e a tendência é de uma leve queda nos próximos meses. No mercado externo, a situação tem sido positiva para a carne brasileira. Os indicadores de exportação mostram que os preços estão convidativos, estamos exportando carne apesar da crise. Mesmo com as exportações em alta tivemos aproximadamente 13% a mais de volume de carne bovina, que foi absorvida internamente?, comentou Alcides.
Já o pesquisador da Embrapa Cerrados, Roberto Sainz, falou sobre ?Tipificação e premiação de carcaças?. Entre os pontos salientados por Sainz, estiveram o fato de o Brasil não dispor de um Sistema Brasileiro Efetivo de Classificação de Carcaça, uma vez que o existente nunca saiu do papel. O pesquisador, que também é professor titular da Universidade da California, falou sobre os sistemas de classificação de outros países, em especial, o dos Estados Unidos, onde a avaliação das carcaças bovinas é feita após o resfriamento, já na câmara fria e onde o sistema de classificação já existe há mais de 100 anos. Sainz lembrou que no país norte-americano a indústria valoriza o rendimento das carcaças, o consumidor valoriza a qualidade e o produtor produz a carne de acordo com os sinais enviados pelo consumidor. ?No Brasil é possível selecionar animais zebuínos com carne macia e de qualidade. Mas para isso é preciso medir e selecionar?, explicou.
Paralelamente, no Salão Nobre da ABCZ, o médico-veterinário e selecionador de gir leiteiro Eduardo Falcão falou sobre o ?Leite de Zebu A2?, primeira da série de quatro palestras do Fórum Zebu de Ponta a Ponta na programação dirigida à produção de leite. De acordo com Falcão, a seleção da Estância Silvânia começou na década de 1960, com foco na produção na de leite e na identificação de famílias, através do controle leiteiro oficial. Quando assumiu o gerenciamento da propriedade, cerca de 30 anos depois, profissionalizou as atividades da fazenda, com avaliações genéticas, touros provados, multiplicação genética e acasalamentos direcionados. Como resultado, os animais do criatório conquistaram recordes de produção de leite, inúmeros campeonatos em pistas de julgamento e torneios. Em meados da década de 1990, pautado nas estatísticas de alergia da população mundial ao leite de vaca devido à proteína beta-caseína A1 (6% da população têm alergia ao leite), proteína essa não presente no leite dos zebuínos (beta-caseína A2), passou a trabalhar com esse nicho de mercado. ?É um produto de inclusão social, com forte apelo ecológico, além de uma mudança de foco para o gir leiteiro, que é a produção de leite com valor agregado?, explica Falcão.
Em seguida, o zootecnista e pesquisador da Clínica do Leite ESALQ/USP, Augusto César Lima, proferiu palestra sobre as ?Características e vantagens do leite do zebu nos laticínios?. Com base em pesquisas realizadas pela Clínica, Lima explicou que a indústria láctea busca um leite com alto teor de proteína, e 78% desta proteína é a caseína. ?No Brasil, os produtores que oferecem o leite rico em proteína para a indústria recebem um diferencial que pode chegar a 20% do valor do produto. Isso acontece porque essa matéria-prima tem mais rendimento na indústria, gerando um volume maior de produção?, ressalta. Segundo o pesquisador, a sanidade dos animais é um dos principais fatores que afeta a produção de proteína e gordura no leite, além do nível de produção dos animais (quanto maior a produção, menor o teor de proteína), o estágio de lactação (animais no final de lactação produzem maior quantidade de sólidos), a rotina inadequada de ordenha (com maior teor de gordura ao final da ordenha, sendo a ordenha da tarde a que apresenta maior teor) e a nutrição inadequada. ?Entre outras ações, para aumentar o teor de sólidos no leite, o produtor deve motivar seus empregados, oferecer volumosos de qualidade, balancear a dieta, reduzir a mastite em seu rebanho e investir em genética, usando sêmen provado?, avalia.
O zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro, fez a terceira palestra do Fórum, com o tema ?Mercado do Leite: Interno e Externo ? Cenário Atual e Perspectivas?. Segundo Ribeiro, os preços do leite ao produtor estão firmes e em alta desde outubro do ano passado, apresentando, no período, uma alta de 9,8% em média. No pagamento de abril, referente ao leite entregue em março, o preço teve o maior reajuste do ano, com alta de 2,4%, quando o produtor recebeu, em média, R$0,875 por litro. Em relação ao segundo semestre de 2012, os preços pagos ao produtor aumentaram 10%. Na análise do consultor, a forte concorrência entre os laticínios, com a oferta de leite em queda, foi o principal motivo da alta. ?A captação está em queda desde dezembro do ano passado. Em abril, considerando a média brasileira, os dados parciais apontam para uma queda de 0,6% na captação em relação a março?, avalia. Ribeiro projeta aumento nos valores pagos em maio. Para junho, a projeção é de leve aumento à estabilidade dos valores. Para o analista, a saída para o produtor se manter na atividade com lucratividade é o emprego de tecnologia na atividade. ?Enquanto o leite produzido com emprego de alta tecnologia apresentou em 2012 rentabilidade de 7,7%, o com baixo emprego teve prejuízo de 2,61%?, ressalta.
As palestras da programação Leite foram encerradas pelo analista de mercado da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), Gustavo Beduschi, que teve como tema ?Indústria do Leite: Transformações recentes e suas consequências?. Segundo o analista, as indústrias brasileiras, antes fragmentadas, estão passando por uma fase iniciada recentemente de consolidação, o que favorece o setor no que diz respeito à atuação no mercado. Ainda de acordo com Beduschi, o setor precisa ficar atento ao cenário mundial para ter uma participação maior no mercado internacional. Ainda segundo o analista, a OCB, o MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário) e Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) assinaram um acordo - ?Projeto Setorial de Promoção de Exportações de Produtos Lácteos? (PS-Lácteos) ? que visa ampliar a exportação de lácteos em cerca de 30% em dois anos. Aberto às cooperativas de laticínios e empresas individuais de todos os portes, o PS-Lácteos prevê ações de fortalecimento da imagem e a melhoria da qualidade da produção do setor. Estão previstas missões de prospecção de novos mercados, em eventos e feiras internacionais, além de trazer importadores, jornalistas e formadores de opinião estrangeiros para conhecer as empresas do setor e estabelecer negócios.
Na sequência, o chef de cozinha Allan Vila fez uma apresentação sobre a preparação de alguns dos principais cortes bovinos, com peças de carne nelore (Seara Natural). Ele falou sobre a criação dos três pratos exclusivos para o 2º Fórum Zebu de Ponta a Ponta: o Zeburguer (feito com carne moída de zebu, noz moscada e queijo minas); Zebunoff (strogonoff feito com coxão mole de zebu) e a Zebuiada, preparada com cubinhos de acém, cenoura e vagem.
Logo após a apresentação, os participantes do Fórum puderam degustar os três pratos. O fórum foi encerrado com a palestra ?Fatos marcantes do Agronegócio Brasileiro?, proferida pelo palestrante Eliseu Roberto de Andrade Alves.