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07 DE DEZEMBRO DE 2009. POR LARISSA VIEIRA

"Registro abre a possibilidade de uso clones em programas de melhoramento", diz pesquisador

Depois do primeiro registro genealógico de um clone, ocorrido na semana passada, o próximo passo da clonagem de zebuínos pode ser a utilização efetiva dos clones nos programas de melhoramento genético animal. É o que acredita o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos, Rodolfo Rumpf, que integra o grupo de pesquisadores da entidade responsável pela clonagem de bovinos no Brasil. Segundo ele, esse deve ser um benefício, a curto prazo, da liberação do registro de clones. Em entrevista à ABCZ, ele fala quais as vantagens da clonagem, como a tecnologia poderá contribuir para preservar raças com risco de extinção e sobre o consumo de carne e leite de clones.


Como a pecuária brasileira pode ser beneficiada com o registro de clones?


A curto prazo, representa a possibilidade de utilização efetiva dos clones nos programas de melhoramento genético animal. Regenerar aquela genética (aquele animal) de elevado mérito que por algum motivo acidental se perdeu, sempre foi uma meta da Ciência. O seguro ressarcia o criador financeiramente, mas o patrimônio genético que o animal que morreu representava era inevitavelmente perdido. Hoje o foco está voltado para a "reposição de estoque", ou seja, clonar animais de elite que morrem ou aqueles que a sua produção não atende a demanda comercial. Nesse aspecto, essencialmente voltado para a clonagem de reprodutores, é sempre bom lembrar que a tecnologia não deve sobrepor às deficiências genéticas/fisiológicas que o animal pode ser portador. Um bom diagnóstico preliminar da eficiência reprodutiva do "candidato" à clonagem é recomendado.
A médio e longo prazo, a eficiência da técnica, que hoje é ainda muito baixa, é que vai definir o maior ou menor impacto da clonagem na pecuária. A pesquisa, no entanto, trabalha com a meta da clonagem chegar aos rebanhos comerciais. Nesse momento, é importante reforçar a ideia dos Bancos de Conservação de Germoplasma Animal, que as associações de criadores deveriam implementar. O grande questionamento em relação ao uso de clonagem está associado à diminuição da variabilidade genética. Com os Bancos de Germoplasma, a variabilidade fica assegurada e os benefícios da clonagem poderiam então ser amplamente explorados. A ideia é criar verdadeiras "linhas de montagem" de embriões com grau de sangue definidos, segundo o ecossistema, o sistema de produção e principalmente o mercado, e isso tanto para a pecuária de leite quanto para a de corte.

A liberação do registro de clones pode ajudar a popularizar a tecnologia?


Com certeza, não só a popularização, mas principalmente no desenvolvimento científico/tecnológico da clonagem. Não existe evolução de uma tecnologia sem rotina e a rotina vem com a demanda e consequente esforço científico. Como é uma tecnologia nova, foi estabelecido como condição sine qua non que o registro definitivo do clone será dado somente quando esse demonstrar a viabilidade de seus gametas, espermatozóides e óvulos. Vários estudos demonstraram que a estabilidade genética dos descendentes de um clone é exatamente a mesa dos descendentes do animal que foi clonado. É importante informar aos criadores que existe um projeto de lei de autoria a senadora Kátia Abreu que regulamenta a produção de clones no Brasil, sob os aspectos técnicos, mas também em relação à propriedade do material genético. Isso tudo dá transparência aos processos e maior tranquilidade aos criadores e aos nossos parceiros comerciais.


Existem estudos sobre a carne e leite produzidos pelos clones?


O FDA (órgão governamental dos Estados Unidos responsável pela liberação para consumo de alimentos e medicamentos) já liberou o consumo de produtos e subprodutos oriundos de clones e seus descendentes. Não foi possível identificar mudanças quanto ao valor nutricional ou ainda a produção, por parte dos clones, de alguma nova molécula que pudesse produzir efeitos colaterais no ser humano.

 

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