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03 DE MAIO DE 2009. POR PATRÍCIA PEIXOTO BAYÃO

Simpósio: Pecuária Sustentável é possível

É possível fazer da pecuária brasileira uma atividade ainda mais sustentável. Esta foi a conclusão apresentada pelos mais renomados cientistas brasileiros no assunto, que ontem (02/05) participaram do 2º Simpósio Pecuária Sustentável, promovido pela ABCZ em parceria com o Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), durante a ExpoZebu 2009.

Apresentações

Abrindo as palestras da tarde, o professor Paulo Henrique Mazza Rodrigues, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), falou como reduzir Gases de Efeito Estufa (GEE) com base na bioquímica dos ruminantes. De acordo com o professor, como o uso de lipídeos, ácido propiônico (que funcionaria como receptor de hidrogênio), mudança na dieta, uso de outros ácidos, com malato e fumarato, modificadores (antibióticos), drogas e vacinas para diminuição da produção de metano foram testados.  "As pesquisas mostram que, ou o efeito do procedimento era transitório, ou era tóxico para os animais ou causavam prejuízo à digestão, gerando queda no desempenho do animal", relata Mazza. No entanto, o palestrante ressaltou que ainda não é possível bloquear a produção de metano animal, mas é possível diminuí-la. "Talvez a solução esteja na mistura das tecnologias existentes. É importante lembrar que a diminuição do metano aumenta a eficiência produtiva do animal", finalizou o professor.

O potencial da nutrição para melhor desenvolvimento da sustentabilidade foi o assunto abordado pelo professor e pesquisador das Faculdades Associadas de Uberaba (Fazu), Adilson Aguiar. Segundo o palestrante, em um curto prazo, o que faz com que o pecuarista adote a intensificação da pastagem é a viabilidade econômica do processo. Neste contexto, Aguiar apresentou o resultado de pesquisa realizada pela Fazu, na qual é comprovado que quanto maior a intensificação da pastagem, maior é a produtividade do rebanho e o seqüestro de carbono. "Mas é importante lembrar que não há um sistema único para todas as propriedades. Existem parâmetros indicativos - como tipo climático, de solo, quantidade de chuva, cabeças de gado, área da propriedade, valor da terra, custo com mão-de-obra e atividade, por exemplo - do nível de intensificação a ser adotado em cada propriedade", explica o professor. Ou seja, uso de tecnologias de processo e "low input" (baixo investimento em insumos) - escolha da espécie forrageira adaptada às condições ambientais, estabelecimento correto da pastagem, manejo do pastejo com base nas condições alvo, pastejo de lotação rotacionada, gestão do crescimento da pastagem e da disponibilidade de forragem para ajustes da taxa de lotação à capacidade de suporte, e controle de pragas e plantas invasoras - ou "high input" (alto investimento me insumos) - correção, adubação e irrigação.

Na sequência, os pesquisadores Alexandre Berndt e João Demarchi falaram sobre o trabalho realizado pelo Instituto de Zootecnia da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (IZ/APTA) e mostraram o resultado da técnica com o Gás traçador SF6, quando uma cápsula é calibrada e inserida no rumem do animal para mensurar a emissão de metano. "Este trabalho é parte de um projeto maior desenvolvido pela IZ, que busca avaliar, entre outros objetivos, a produção e seqüestro GEE em diferentes sistemas de produção de carne bovina" explica Demarchi.
Ainda segundo o pesquisador, identificar e quantificar os efeitos das mudanças climáticas sobre os diferentes componentes dos sistemas de produção, assim como ações, tecnologias e procedimentos que reduzam a produção de GEE para cada quilo de carne bovina produzida são outros objetivos do projeto, que busca, ainda, validar normas e procedimentos para garantia de qualidade e rastreabilidade dos produtos gerados e conseqüente certificação das unidades produtoras, e fornecer subsídios para a criação de uma referência técnica que viabilize a comercialização de créditos de carbono em sistemas de produção de carne certificados.
"Fazer uma pecuária produtiva e moderna, sem derrubar árvores, trabalhar com um marketing agressivo para a cadeia, mas tecnicamente coerente, e intensificar e recuperar pastagens degradadas como estratégias para aumentar a produtividade da pecuária são os desafios da pecuária brasileira", finalizou o pesquisado do IZ.

Genética como variável na produção sustentável foi o tema da quarta palestra da tarde, proferida pelo superintendente técnico da ABCZ, Luiz Antônio Josahkian, que iniciou sua fala fazendo um apanhado sobre a história do zebu no Brasil. Foi apresentado, também, o Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ) e ressaltada a importância da parceria de 30 anos entre a ABCZ e a Embrapa na realização do programa.
De acordo com Josahkian, as raças zebuínas apresentam uma plasticidade de genética incomparável entre todos os bovinos mundiais, o que possibilita sua manutenção em diferentes sistemas de produção. "As raças zebuínas possibilitam a implantação de uma pecuária auto-sustentável, independente de fatores externos e da diversidade de meio-ambiente natural presentes no Brasil", afirmou.
Ainda segundo o superintendente da ABCZ, a estrutura fundiária do país, organizada em rebanhos bem administrados e comprometidos com programas de melhoramento está conduzindo a população zebuína a patamares superiores e sustentáveis de produção. Existem também, vantagens claras no sistema de produção predominantemente a pasto, que agrega valor por não apresentar um produto com riscos, como a presença de resíduos de substâncias químicas, além de configurar um sistema equilibrado entre animal e planta. "As soluções para a otimização da produção de carne e leite, não só no Brasil, mas também em todas as regiões de trópicos e sub-trópicos, passam, obrigatoriamente pelo material genético zebuíno", finalizou Josahkian.

Dante Pazzanese Duarte Lanna, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (ESALQ/USP) proferiu a última palestra do simpósio, discorrendo sobre o confinamento como redutor da emissão dos GEE. De acordo com Lanna, a única forma economicamente viável de redução do metano é aumentando a produtividade do animal. "Em um sistema de confinamento de curta duração, ou seja, de 70 dias, com uma dieta de grãos conseguimos reduzir a emissão de metano em 15%. Porém, se o confinamento for de longo prazo, temos aumento nesta emissão", afirma. Porém, o professor ressalta que o sistema precisa ser implantado próximo à lavoura. Como exemplo, ele cita os suinocultores europeus, que importam milho do Brasil. "O milho sai do Centro-oeste brasileiro, vai de caminhão até o porto, e de navio até a Europa. Essa emissão de carbono do transporte não é computada na carne européia", explica. Outro ponto importante é a questão da viabilidade econômica. "Quanto mais perto da lavoura, mais barato é o produto", ressalta.


Em seguida, foi aberto espaço para um debate entre os cientistas e os participantes do simpósio para conclusão das apresentações. A intenção é que o simpósio produza um documento com recomendações sobre sustentabilidade na pecuária. Participam ainda do debate os pesquisadores Guilherme Aleoni (IBGE RJ), Daniela Bacchi (ESALQ/USP), Marcelo Galdos (CENA/USP), Márcio dos Santos Pedreira (Universidade Federal do Sudoeste da Bahia) e Mário de Beni Arrigoni (UNESP/Botucatu).

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