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02 DE MAIO DE 2009. POR LAURA PIMENTA

Pecuária Sustentável é realidade possível

É possível fazer da pecuária brasileira uma atividade ainda mais sustentável. Esta foi a conclusão apresentada pelos mais renomados cientistas brasileiros no assunto, que na manhã de hoje (02/05) participaram do 2º Simpósio Pecuária Sustentável, promovido pela ABCZ em parceria com o Conselho Nacional da Pecuária de Corte (CNPC), durante a ExpoZebu 2009.


Abertura


O simpósio foi aberto pelo assessor da diretoria executiva da Embrapa, Fernando Campos, pelo presidente da ABCZ, José Olavo Borges Mendes e pelo presidente do CNPC, Sebastião Guedes. Em sua fala, Fernando Campos afirmou que "este é o momento de revertermos o que vem sendo falado sobre a pecuária brasileira, que não pode ser taxada de prejudicial ao meio ambiente. Nossa preocupação é que nos próximos anos mais pesquisas e dados científicos sejam conhecidos, para que possamos mostrar o quanto nossa pecuária é pujante e que ela pode ser ainda mais sustentável".
O presidente da ABCZ deu prosseguimento, afirmando que a pecuária bovina brasileira reúne todas as condições para o crescimento sustentável. Segundo José Olavo, não há um único conceito de sustentabilidade e é possível criar vários modelos para uma pecuária sustentável, porém alguns fatores são determinantes em qualquer modelo. "Não podemos pensar em pecuária sustentável sem pensar em viabilidade econômica, sem pensar em capacidade de atender ao crescimento da demanda por consumo - pois estamos falando da produção de alimentos e não em produtos supérfluos -, sem pensar em preservar o meio ambiente e sem pensar em sanidade", pontuou.
O presidente do CNPC, Sebastião Guedes, agradeceu a oportunidade de realização de mais um simpósio para avaliar a questão da sustentabilidade na pecuária brasileira e também do continente sul-americano e salientou a importância deste tipo de discussão em uma feira como a ExpoZebu.

A abertura do evento contou ainda com a participação dos deputados federais Abelardo Lupion e Ronaldo Caiado e do deputado estadual mineiro, Adelmo Carneiro Leão.

Apresentações

A primeira apresentação, foi feita pelo assessor da diretoria executiva da Embrapa, e apresentou os resultados da reunião sobre Gases de Efeito Estufa na Sustentabilidade da Pecuária Brasileira, realizada em São Paulo, nos dias 08 e 09 de dezembro de 2008.
Nela, os pesquisadores identificaram as linhas de pesquisas existentes atualmente sobre o assunto no Brasil e propuseram as demandas de pesquisa, que devem ser desenvolvidas nos próximos anos para levantamento de dados sobre o tema. Dentre elas: desenvolvimento de indicadores de degradação de pastagens, levantamento de dados sobre níveis de produção e degradação de pastagens, conhecimento dos sistemas regionais e avaliação da eficiência de cada um deles, do ponto de vista econômico e ambiental, etc.

Fernando Campos lembrou que os esforços dos cientistas brasileiros durante as pesquisas sobre Gases do Efeito Estufa já produziram alguns resultados. A partir das pesquisas, os cientistas descobriram, por exemplo, que as emissões de metano, estão sendo reduzidas por unidade de produto animal, principalmente a partir de 1990. Outro ponto revelado é de que os fatores de emissão (direta) de óxido nitroso da urina em pastagens são bem inferiores aos considerados pelo Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) e que as emissões devidas às fezes dos animais são ainda menores.

Outra questão importante diz respeito à descoberta de que os solos sob pastagens produtivas de três biomas importantes (Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica) podem acumular carbono em níveis semelhantes ou superiores aos solos sob vegetação nativa, ou seja, a pastagem bem manejada pode ser uma vegetação interessante para sequestro e armazenamento de carbono no solo, o que ajudaria a evitar o aquecimento global.

Em seguida, foi a vez da pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, Magda Lima, que falou sobre o trabalho realizado pelo IPCC, que estima através de diversas metodologias as emissões líquidas de Gases do Efeito Estufa e a partir disso produz os inventários nacionais sobre o assunto. Em sua palestra, Magda falou sobre as principais fontes de gases do efeito estufa ligadas à produção agropecuária: o CO2 (proveniente do desmatamento de florestas), o metano (proveniente da fermentação entérica do rúmen dos bovinos e outros ruminantes) e o óxido nitroso (proveniente das fezes e urina).
Todos estes gases contribuem para o aquecimento global, porém a pesquisadora foi categórica ao dizer que existem alternativas para a redução destes gases. De acordo com Magda, o cenário de evolução da produção de gás metano no Brasil projetado até 2020 indica que, se algumas estratégias forem adotadas visando uma pecuária mais sustentável haverá uma redução sensível da emissão destes tipos de gases. Dentre as estratégias citadas para esta redução está a mudança da microflora do rúmen bovino e a mudança na dieta destes animais.

Outro tema importante abordado no encontro foi o aumento da produção de CO2 e a necessidade de investimentos que viabilizem a recuperação de pastagens degradas, especialmente na região amazônica. O assunto foi abordado pelo pesquisador Antonio O. Manzi, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). Em sua apresentação, o cientista esclareceu que ao substituir a vegetação da floresta por pastagens ocorre a mudança do microclima da região, além de haver o aumento da temperatura média, da temperatura máxima diária em mais de 1ºC e diminuição da umidade do ar. "As florestas armazenam grande quantidade de carbono. Estima-se que existam 80 a 120 bilhões de toneladas de carbono estocados nestas florestas, sem contar a quantidade de carbono do solo. Quando há queimada ou outra forma de desmatamento o carbono estocado vai para a atmosfera em forma de CO2", afirmou.
O cientista apresentou ainda as estimativas de emissões por conversão de floresta em pastagem na Amazônia. Em 10 anos, foram emitidos para a atmosfera um total de 2,28 bilhões de toneladas de carbono, o que representa 2,5% de todas as emissões globais, levando-se em conta o desmatamento e o uso de combustíveis fósseis. Segundo Manzi, o grande problema da Amazônia é o deflorestamento, pois se estima que 50% das pastagens desta região estejam degradas, em fase de degradação ou inutilizadas. "A pecuária na Amazônia não está sendo sustentável, mas existem alternativas para torná-la sustentável", sentenciou.
A primeira alternativa segundo ele é a elaboração de políticas públicas para recuperação e intensificação do uso de áreas degradadas. Uma segunda alternativa seria a utilização da integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura.
Manzi citou o exemplo da integração feita na região de Paragominas, no estado do Pará. No primeiro ano, a pastagem degradada é preparada para receber uma plantação de arroz. No segundo ano, planta-se milho mais um tipo de brachiaria de ciclo anual. No terceiro ano, planta-se soja. No quarto ano, milho e uma gramínea perene. Dessa forma, nos quatro ou seis anos seguintes a área pode ser usada novamente como pastagem de boa qualidade. "Esses sistemas são interessantes, pois podem estocar carbono no solo ou na biomassa", destaca.


Na sequência, o pesquisador da Embrapa Agrobiologia, Bruno Alves falou sobre as perspectivas de melhoria quanto às emissões de Gases do Efeito Estufa em pastagens brasileiras. Para o pesquisador, é fundamental que os produtores mantenham as pastagens produtivas e sem nenhum tipo de degradação, uma vez que as pastagens são importantes para o sequestro e manutenção de carbono no solo. Durante o simpósio, Bruno apresentou os resultados de uma pesquisa que avaliou a quantidade de carbono presente no solo de quatro sítios diferentes das regiões de Chapadão do Sul/MS, Itaporã/MS, Luz/MG e Penápolis/SP, que demonstrou que as pastagens produtivas são a melhor cultura para acumular carbono no solo, se comparadas à vegetação nativa e à pastagem degradada. "Se o pasto é mal manejado o solo começa a perder carbono. O pasto quando bem manejado sequestra e mantém esse carbono. Porém, este seqüestro é limitado, pois chega um ponto onde estabiliza. Por isso, não basta a preocupação apenas com o sequestro de carbono, mas também com a diminuição da produção de metano e NO2.", revelou.
Outro fator que contribui para a produção de gases de efeito estufa no campo é o uso de fertilizantes nitrogenados. Como alternativa mais sustentável, o pesquisador ofereceu a consorciação de pastos ao invés da utilização de fertilizantes.

Para finalizar as apresentações do período da manhã, o pesquisador da Embrapa Florestas, Vanderley Porfírio da Silva, falou sobre os benefícios do Sistema Silvipastoril, que apresenta vantagens em vários aspectos, como da pastagem, florestal, ambiental e de renda do produtor. Dentre os benefícios estão a proteção das pastagens, recuperação de nutrientes lixiviados, oportunidade de negócio para o pecuarista aumentar sua renda sem deslocar-se de sua atividade pecuária, maior eficiência do uso da terra, sombreamento para os animais (bem estar animal), produção de madeira em pastagens em substituição à exploração de madeiras em florestas naturais, dentre outros.

No período da tarde, acontece outra rodada de palestras com a participação do professor da USP de Pirassununga, Paulo Henrique Mazza; do professor da FAZU, Adilson Aguiar; dos pesquisadores da APTA/IZ João Demarchi e Alexandre Berndt; do superintendente técnico da ABCZ, Luiz Antônio Josahkian; do professor da ESALQ de Piracicaba, Dante Pazanezze Duarte Lanna. Em seguida, os cientistas farão um debate para conclusão das apresentações. A intenção é que o simpósio produza um documento com recomendações sobre sustentabilidade na pecuária.
Participam ainda do simpósio os pesquisadores Daniela Bacchi (ESALQ/USP), Marcelo Galdos (CENA/USP), Márcio dos Santos Pedreira (Universidade Federal do Sudoeste da Bahia) e Mário de Beni Arrigoni (UNESP/Botucatu).

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