A decisão da diretoria do Núcleo dos Criadores de Nelore de Avaré e Região, de realizar conjuntamente os julgamentos de nelore mocho e nelore padrão, durante a 44ª Emapa, a partir de hoje (03/03), em Avaré/SP, traz à tona uma discussão antiga e que ganhou apoio de muitos criadores.
Durante a NeloreFest, realizada no Espaço Rosa Rosarium, em dezembro de 2008, ao agradecer a premiação como criador do ranking da Associação dos Criadores de Nelore do Brasil (ACNB), o selecionador Carlos Viacava teceu críticas às alterações no regulamento do ranking, em relação às mudanças dos índices de bonificação para o nelore mocho. "A raça é uma só, segundo o registro genealógico do Brasil (ABCZ e Mapa) e o nelore mocho, com a cabeça lisa, sem calo ou batoque, é considerado padrão ideal da raça nelore", afirmou. "Havia uma diferença no índice de bonificação, maior para o mocho, porque o número de animais em exposições é menor que o do chifre, no entanto, a equalização dos índices tornou-se num grande desestímulo à raça."
Porém, na ocasião, ele lembrou que há males que podem vir para o bem, já que a equalização poderia ser um passo importante para a unificação do ranking e das exposições. "Precisamos botar um pouco de sal e pimenta nesse negócio, vamos unificar o ranking e as exposições, julgando conjuntamente o Nelore mocho e o de chifre. O apelo está lançado", convocou.
A proposta de Viacava começou a ganhar força com a decisão da Emapa, tendo o apoio de outros neloristas. "Estou de acordo com o julgamento unificado, afinal, somos criadores de Nelore. Vamos topar o desafio", concorda o criador Angelo Calmon de Sá.
Luiz Cláudio Paranhos, dono da Japaranduba Fazendas Reunidas Ltda. e diretor da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), também aprova a iniciativa. "A decisão será um marco na história da raça nelore", disse. "É importante que todos possam ver o nelore ser julgado unido, animais com chifres e animais sem chifres", afirma, lembrando que a decisão beneficiará os animais sem chifres, que terão a oportunidade de reafirmar seu valor, não como mocho, mas sim como nelore.
"Sou a favor da unificação, não só em Avaré como em toda e qualquer exposição, e espero que outras exposições sigam esse exemplo", destaca o criador Ricardo Viacava. "Essa é, sem dúvida, a melhor maneira de valorizarmos nosso gado. De que adianta ter uma Campeã Nacional se o mercado não valoriza?", questiona. "Vamos enxergar mais longe, não somos criadores de nelore mocho, somos criadores de nelore, e, mais que isso, produzimos genética para produzir carne boa e de baixo custo."
"A decisão de julgamento conjunto é muito importante e também incluo aqui que todas as provas de ganho a pasto não fazem separação entre padrão e mocho", lembra o selecionador de mocho Amauri Gouveia. "É hora de colocarmos gostos e preferências em segundo plano para podermos medir nossa competência como criadores", acrescenta. "Crio gado puro desde 2000 e fui me familiarizando com os animais sem chifres, mas com a consciência de que criamos um gado chamado nelore e que não restringe acasalamentos entre chifres ou sem chifres porque não existe diferença."
O criador Bruno Toldi concorda com a decisão do Núcleo de Avaré e destaca o apoio recebido por parte de muitos criadores que acreditam que, no longo prazo, a iniciativa será muito boa para o crescimento do nelore mocho. "Tenho ciência da dificuldade que enfrentaremos pela frente, e sei que não será fácil passar de um julgamento de 100 para 1400 cabeças, mas certamente essa mudança nos abrirá muitas portas", salienta.

Aval da pesquisa

De acordo com o pesquisador Raysildo Lobo, a decisão da unificação no julgamento é um passo importante para a valorização da raça nelore como difusora de sementes genéticas para os rebanhos de corte do Brasil e do mundo e, também, para a sustentabilidade das exportações. "Em nossa avaliação genética sempre houve a unificação e com isso percebi em quase 20 anos de pesquisas um fortalecimento e crescimento da raça. Assim, o nelore padrão e o mocho são comparáveis geneticamente por meio das DEPs", enfatiza o pesquisador.
Reforçando as palavras do Raysildo em relação à avaliação genética, o pesquisador da Embrapa, Claudio Magnabosco, menciona, a título de colaboração, que nas Provas de Ganho em Peso a Pasto e Confinadas, realizadas na Embrapa, em Goiânia (GO), os mochos sempre participaram e apesar do menor número sempre se classificaram em sua maioria entre os Elite e Superiores em 9 anos de provas. "Assim, tanto o nelore padrão como o mocho são comparáveis pelo mérito genético e pelo desempenho nos nossos Testes de Desempenho", observa.

Opinião contrária

Diferente da maioria, o criador Marcelo Vasone, mostrou-se surpreso com a decisão do julgamento em conjunto nelore mocho / nelore de chifres. "No momento atual, um julgamento em conjunto com mais de 1.400 animais nelore de chifre seria um verdadeiro ‘balde de água fria' e um total desestímulo para os novos criadores do nelore mocho", justifica "Sou a favor do julgamento em conjunto sim, mas em exposições de menor porte", diz, destacando a importância da Exposição de Avaré, como a mais aguardada e uma das que mais reúne criadores, expositores e animais da raça nelore mocho de todo o Ranking ACNB.
Também alguns criadores de nelore padrão, como Luís Reche manifestaram seu descontentamento, temendo uma maior concorrência.

Fonte: Imprensa CV / Izabelly S. Pereira