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11 DE NOVEMBRO DE 2005. POR RENATA THOMAZINI

Consumidor exige qualidade certificada

Cada vez mais preocupado com a sanidade dos produtos que adquire, o consumidor dita com austeridade os rumos do mercado. O assunto foi amplamente discutido durante as palestras do painel Certificação, que fechou o encontro de pecuaristas, pesquisadores e estudantes no 6º Congresso Brasileiro das Raças Zebuínas, realizado pela ABCZ, em Uberaba (MG), de 6 a 9 deste mês. O painel foi coordenado pelo presidente do Serviço de Informação da Carne, Carlos Viacava. Nunca a informação foi tão importante para se garantir a permanência de produtos no mercado como nos últimos dez anos. Abordando esse assunto, Kátia Leal Nogueira, gerente de desenvolvimento de Novos Negócios da SGS, abriu o painel e enfocou o quanto a mídia pode influenciar a opinião do consumidor sobre o que ele compra. ?A União Européia é o maior mercado consumidor da carne bovina brasileira, tanto em termos de volume, quanto em valores. Podemos resumir esse mercado como maduro, estável e altamente protegido?, destacou a palestrante ao mencionar que o aparecimento do popularmente conhecido como ?mal da vaca louca? na Europa acendeu um estopim de alerta que foi destaque em vários meios de comunicação e contribuiu para lançar sobre a pecuária os holofotes da insegurança. ?O consumidor passou a se sentir inseguro até mesmo em relação às leis de seu próprio país. Elas passaram a ser vistas como frágeis com a divulgação de notícias sobre uma porcentagem de carne importada que poderia conter resíduo de antibióticos?, disse. Kátia esclareceu que os produtos orgânicos passaram a ser mais consumidos e que na Suíça, por exemplo, o governo resolveu fazer uma exigência de certificação às avessas. Para ter acesso àquele mercado, a carne teria que conter certificação ou um selo que descrevesse que haveria a possibilidade de resíduos. Marketing e credibilidade O Brasil precisa estabelecer critérios de certificação que garantam a qualidade e a procedência da carne que exporta. A criação do Sistema de Certificação de Origem Bovina e Bubalina (Sisbov), mesmo que sem o padrão necessário para dar tranqüilidade e atender às necessidades da cadeia produtiva ? ao mesmo tempo que alcançasse resultados esperados, foi muito importante para que o País mantivesse sua credibilidade diante do mercado internacional. ?O consumidor precisa ter confiança naquilo que está adquirindo. O mercado sempre ditou as regras de nossas exportações. Basta revermos as exigências sobre a estrutura das plantas de frigoríficos e as imposições sobre as condições de fornecimento da carne brasileira, com as visitas periódicas das comissões de nossos clientes. Agora, a exigência vai além do frigorífico?, ressaltou Naor Maia Luna, coordenador de Sistemas de Rastreabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Naor explicou a importância da participação de toda a cadeia produtiva no processo de certificação. Segundo o palestrante, o Mapa reconhece que o prazo para a implantação do Sisbov foi pequeno, mas o benefício da certificação não pode ser encarado como sendo apenas do consumidor. ?É preciso que se entenda que um alimento certificado agrega valor?, afirmou. Sobre esse aspecto, Nelson Rafael Pineda, diretor da ABCZ, fez uma análise crítica de todo o painel e disse que o Brasil não pode dar um ?jeitinho? quando o assunto é mercado. ?Não se pode empurrar um produto para o consumidor. Ele é exigente e merece ser tratado com seriedade?, disse. Pineda ainda falou sobre a estrutura ideal para a certificação da carne brasileira e que é preciso interagir o ambiente organizacional para que as informações sejam comuns desde a propriedade pecuária até o consumidor. ?Temos que ter um grupo, que pode ser gerenciado pela própria cadeia produtiva, que zele pela eficiência desse processo para dar tranqüilidade ao consumidor sobre a qualidade de nosso produto e, ao mesmo tempo, avaliar se todo o processo está sendo cumprido com eficiência?, destacou. Ao ser perguntado sobre a influência dos produtores quanto a um possível retrocesso do Sisbov, Pineda foi enfático: ?O produtor não tinha condições de cumprir as exigências como estavam no papel. Por isso utilizou-se de seu direito legal e democrático de protestar. É preciso dar condição ao produtor para que ele possa cumprir as exigências do mercado. Não é interesse de ninguém engrossar perdas econômicas, mas é preciso um processo que sensibilize toda a cadeia produtiva para que a certificação funcione e não penalize ainda mais o produtor?, finalizou. Javier Martinez Del Valle, da Associação de Produtores Exportadores Argentinos (Apea), lembrou que é preciso partir do princípio de que quem dita o compasso do mercado é o consumidor e, na maioria das vezes, ele é alarmado quanto existe um perigo de contaminação alimentar que nem sempre condiz com a realidade. Isso demonstra o quanto é importante a união da cadeia produtiva. ?As mortes por infecção parasitária são muito maiores do que as ocasionadas em decorrência da BSE (Encefalopatia Esponjiforme Bovina). Mas o alarde é maior quando às doenças são provenientes de infecções como ?o mal da vaca louca? e, por isso, a pressão da comunidade junto ao governo faz com que o comportamento político seja o de direcionar leis que coíbam a entrada de produtos de risco para esses males em particular?, explicou. O palestrante ainda abordou as tendências do Mercosul em relação aos mercados consumidores de carne bovina e ressaltou que mesmo que Argentina e Brasil não tenham risco de contaminação por doenças como a BSE, é preciso adequar o processo de produção para que o mercado seja prontamente atendido também em relação à confiabilidade dos produtos a serem exportados.

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