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10 DE AGOSTO DE 2005. POR LARISSA VIEIRA

Cuidados no transporte do gado podem evitar perdas para o agronegócio

Larissa Vieira A maioria das pessoas não imagina, mas a situação precária de muitas rodovias brasileiras pode interferir negativamente no desempenho do agronegócio, setor responsável por 34% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional. Mais de 40 milhões de bovinos são anualmente transportados em caminhões pelas rodovias brasileiras com destino aos frigoríficos para serem abatidos. Parte da produção de carne, mais de oito milhões de toneladas, segue rumo ao mercado externo. Só em julho deste ano, as exportações de carne bovina in natura cresceram 57,3%, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Pegar a estrada com o caminhão carregado de bovinos requer uma série de cuidados que, se ignorados, podem resultar em prejuízo financeiro para toda a cadeia produtiva da carne. Para desviar dos buracos nas rodovias, o motorista é obrigado a fazer manobras mais bruscas. A Belém-Brasília, uma das mais utilizadas para o transporte de carga, lidera a lista de reclamações e chegou a ganhar um apelido bastante sugestivo: Belém-Buraco. Dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito) apontam que o Brasil registra anualmente cerca 1,5 milhão de acidentes. A batida do animal em alguma parte do veículo acaba provocando contusões na carcaça, como o aparecimento de coágulos sanguíneos. Quando isso acontece, a peça não é aprovada pelo controle de qualidade da indústria frigorífica, principalmente aquelas que atendem o mercado internacional, e fica inutilizada. Uma pesquisa feita pelo professor da Unesp, Mateus Paranhos, pioneiro nos estudos sobre bem-estar animal, apontou que o treinamento dos profissionais envolvidos no transporte do gado e a adoção do manejo racional pode reduzir de 20% para 1,3% o índice de carcaças desclassificadas por contusão. Se aplicarmos esses índices no abate geral do Brasil, em torno de 46,9 milhões de cabeças, dá para se ter uma idéia da redução do prejuízo. De 9,38 milhões de carcaças inutilizadas, as perdas cairiam para pouco mais de 500 mil. Os investimentos em bem-estar animal, tanto na fazenda quanto nas estradas e frigoríficos, podem garantir à carne brasileira espaço na mesa dos europeus, nossos maiores clientes. Uma pesquisa divulgada em junho deste ano pela Eurobarómetro (agência européia) mostrou que 57% dos entrevistados estão dispostos a pagar mais por produtos oriundos de propriedades onde há uma preocupação com o bem-estar animal. O levantamento foi feito em 25 países da União Européia. A ambiência será um dos temas do 6º Congresso das Raças Zebuínas, que será realizado entre os dias 6 e 9 de novembro, em Uberaba (MG). A temática do evento será ?Pecuária sem Barreiras? e terá o professor Paranhos como relator do tema Ambiência. Soluções Já alguns frigoríficos tentar fugir dos prejuízos durante o transporte investindo na modernização da frota de caminhões. Como, em geral, os caminhoneiros são apenas prestadores de serviço, as indústrias financiaram a compra dos veículos feitos especialmente para levar o gado. As carrocerias são revestidas por dentro para impedir o contato do bovino com parafusos e arestas. Além de evitar contusões nas carcaças, isso impede a ocorrência de danos no couro. Os motoristas que prestam serviço para as indústrias da carne e transportadoras recebem ainda treinamento especializado. ?Eles aprendem como frear o veículo, fazer curvas e a velocidade ideal para evitar o estresse do animal. Alertamos para o risco da superlotação. O ideal é que eles transportem 18 bois na carroceria do caminhão e 27 na carreta?, revela a médica veterinária do setor de Controle de Qualidade de um dos maiores frigoríficos do país, Cristiane Beveze. Segundo ela, as contusões mais comuns são no quarto dianteiro traseiro, de onde se tira por exemplo a picanha, peça de alto valor, tanto no mercado internacional quanto no interno. Todas essas exigências de mercado contribuíram para profissionalizar o setor de transportes. Quem trabalha com animais de alto valor genético ou destinados ao abate em grandes frigoríficos, prefere embarcar a carga em veículos mais modernos. ?Tivemos que acompanhar a genética. As carrocerias ficaram mais altas e largas porque os bovinos de hoje são maiores e mais pesados?, explica o empresário Anailson Fidélis Costa, que comanda, em Uberaba (MG), uma empresa especializada no transporte de gado de elite. É verdade que os problemas no transporte vão muito além dos buracos no asfalto, as poças de lama ou encarecimento do serviço. O risco de assalto limita o trabalho do caminhoneiros às horas de dia claro. A maioria prefere parar durante a noite. As empresas de transporte costumam equipar sua frota com rádio PX e mantém comunicação constante com os motoristas. Os veículos também são monitorados via satélite por meio do equipamento GPS (Sistema de Posicionamento Global), capaz de informar a localização exata da carreta. Em caso de assalto, o aparelho ajuda a polícia a detectar onde está o caminhão.

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